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quarta-feira, março 31, 2004

Não vão elas ser de "pladur" 

Nem às Paredes Confesso

Não queiras gostar de mim
Sem que eu te peça,
Nem me dês nada que ao fim
Eu não mereça
Vê se me deitas depois
Culpas no rosto
Eu sou sincera
Porque não quero
Dar-te um desgosto

De quem eu gosto
nem às paredes confesso
E nem aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar
Podes chorar
Podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso.

Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por ti
que eu tanto espero.
Se gosto ou não afinal
Isso é comigo,
Mesmo que penses
Que me convences
Nada te digo.

De quem eu gosto
nem às paredes confesso
E nem aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar
Podes chorar
Podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso.

Maximiano de Sousa

terça-feira, março 30, 2004

Hoje 

Ficaram cumpridas as promessas...
Já não tenho livros para ler, estão cumpridos os deveres e acabaram as maçadas.
Saiu o peso da consciência que, ainda assim, ficou pesada.
Espero agora que as horas passem, de duas em duas, até sexta-feira.

Promessas 

Estou farta de promessas.
O que me conforta é que acabam amanhã (ou melhor, hoje ao fim do dia).
Mais grave! Só me pagarão as promessas daqui a umas duas semanas.

domingo, março 28, 2004

Às vezes sou injusta 

Acontece-me muito!
A noite não seguiu tão mal como antecipei. A eternidade foi efémera.
Saí para um "jantarinho" simpático.
Boa companhia e coisas que gosto de comer mas que não digo.
Fazia falta fechar este domingo de outra maneira que não daquela que se adivinhava.
Detesto ficar em casa um dia inteiro. Fico com uma coisa a que chamam "neura". É uma coisa que não existe mas eu sei o que é porque sinto.
Agora é só esperar que amanhã não faça má figura por não ter preparado bem a lição.
Confio na minha capacidade de improviso.
E, claro, na minha sabedoria.


Hoje e agora 

Queria sair de casa...
E não posso!
Não me deixa a consciência, o tempo, a noite que está a chegar e outras coisas...
Estou farta do dia de hoje!
Não quero repetir um domingo igual a este nos próximos meses.
Por tudo e mais alguma coisa, não quero repetições deste dia.
Está a ser demasiado eterno e o pior de tudo é que não prevejo alterações a esta eternidade nas próximas horas.

E depois disto... 

E depois de ter usado as palavras de outros para dizer o que sente a minha alma, lá vou eu cumprir o dever!
Vou ler o livro que tenho para ler.
Vou estudar a maçada.
Vou fazer o que ontem deixei por fazer e, já percebi, não vou fazer o que ontem fiz!


Amar Sem Ser Amado 

Amar sem ser amado! Achar esse ideal
Que a mente imaginou em sonhos desvairados,
E vê-lo mergulhar no pântano infernal
D'amargas ilusões, dos sonhos desfolhados!

Amar sem ser amado! Amortalhar no veu
Da descrença cruel um amor sempiterno!
Amar sem ser amado! É presentir o Céu
Nas chamas imortais do abrasador inferno!

Amar sem ser amado! Em louca adoração
Debalde supicar um doce olhar bendito!
Amar sem ser amado! A vida é uma ilusão,
A esperança um sonho, a f'licidade um mito...

Amar sem ser amado! É como ver correr
Um limpido regato e sôfrego, sedento,
Na fresca limpidez os lábios a tremer
Não poder ir molhar sequer por um momento!

Amar sem ser amado! É ver o céu sem cor,
É não achar perfume à flor mais recendida,
É nos raios de sol não encontrar calôr,
É receber a Morte a cada hora da Vida!


José Régio

Cântico Negro 

"Vem por aqui"- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,

- Sei que não vou por aí!

José Régio

O que fiz e o que não fiz... 

Fiz:
Almocei no LA de Entrecampos;
Lamentei-me;
Namorei (muito e com qualidade);
Mexi nisto;
Estive no sofá;
Comi panquecas (divinas, seguindo uma receita publicada num blog amigo).

Não fiz:
Não preparei uma apresentação importante;
Não fiz a cama;
Não arrumei a roupa;
Não arrumei a casa.

Além do que fiz, não fiz nada de jeito!



Afinal onde está a liberdade? 

Pois foi!
Não fiz mesmo nada do que devia durante o dia e não senti liberdade nenhuma.
Onde é que o Pessoa terá ido buscar estas coisas.
A sensação é de peso na consciência.

sábado, março 27, 2004

Liberdade 

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal
Sem edição original
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e a dança...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol que peca,
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

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