quinta-feira, setembro 09, 2004
Piolhos
Quando eu era pequenina ter piolhos era exclusivo de pobrezinhos que viviam em condições precárias, em casas nas quais nem casa de banho havia. O banho era coisa que nem sequer tinha regularidade semanal, quando as famílias não tinham o hábito de ir à missa de domingo. Sim, porque se era gente de missa, parte do sábado era dedicada a preparar a roupinha de ver a Deus, a esfregar joelhos, cotovelos, a parte de trás das orelhas e a lavar as cabecitas da criançada. Tudo porque à missa ia-se irrepreensivelmente apresentado e mesmo que não se levasse roupa daquele ano, pelo menos tinha de se estar lavadinho.
Piolhos só mesmo nas cabeças de quem não ia à missa e, por isso, dispensava a esfrega semanal.
Ora, parece que os tempos mudaram e as cabeças mais benzocas de Cascais andam pejadas de parasitas que, não lhes sendo bastante o sangue novo, de vez em quando, saltam para as cabeleiras das mães e das tias, numa atitude de resistência aos mais fortes pesticidas. O Quitoso já lhes serve de suminho matinal e engorda-os a olhos vistos em vez de os exterminar. A Mustela pôs no mercado um sucedâneo, a que toda a gente chama Quitoso mas não é, e que deve ser uma óptima sobremesa para os ditos bicharocos. O Nix parece agora ser a arma mais mortífera mas não tardará que estes animaizinhos lhe chamem um figo.
Ouve-se com regularidade:
"-ó mãe, na casa-de-banho da Maria há um "quitoso" igual ao nosso!
- Shiu! Não se fala sobre esse assunto!"
Das mais ricas às mais pobrezinhas, das mais limpinhas às mais porquinhas, parece não haver nestes tempos cabeça digna de assim se chamar, que não transporte meia dúzia de gordos piolhos em permanente estado de desova e uma boa dezena de lêndeas.
Afinal o que querem estes bichos das nossas crianças?
P.S.: escrever sobre isto causa-me comichão.